sábado, 6 de novembro de 2010

Entrevista exclusiva com Tia Nastácia


- Tia Nastácia, a senhora sabe que estão acusando o Monteiro Lobato de exaltar o racismo nas histórias do Sítio do Picapau Amarelo?
- Ché...
- O pessoal acha que a Emília chamar a senhora de “pretura” e a comparação de sua subida em uma árvore a uma macaca de carvão não é politicamente correto...
- Tenha paciência – disse a boa criatura.
- Levantaram até suspeitas de maus tratos, as crianças explorariam seus dotes culinários, exigindo bolinhos de chuva e outros quitutes incansavelmente...
- Nossa Senhora da Aparecida! – exclamou com os olhos pulando da cara.
- Sabia que querem proibir que o livro “Caçadas de Pedrinho” seja distribuído nas escolas? Falam até em recolhê-lo...
- Parem! Parem! Estou procurando algodão para botar nos meus ouvidos e nos de Dona Benta...
*

* as "respostas" de Tia Nastácia foram retiradas de suas falas no livro "Caçadas de Pedrinho".

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Define a sua cidade


Descobriram os infelizes pagodeiros dessa cidade (e mais os pagodeiros-românticos [?!] cariocas) que a conjugação do verbo FUGIR guarda, algumas vezes, proximidade fonética com outro verbo que eles não têm coragem de cantar (?!) abertamente em suas torturas musicais. Aí, é um tal de

“O jeito é dar uma fugidinha com você
O jeito é dar uma fugida com você
Se você quer
Saber o que vai acontecer
Primeiro a gente foge
Depois a gente vê.”

ah, que bonito, que romântico! mas não é nada perto da criatividade (?!) de
“Foge, foge Mulher Maravilha
Foge, foge com o Super Man”

até a Liga da Justiça entrou na dança...e quando você pensa que os limites foram superados, eis que surge
“Você não foge e nem
Sai de cima do meu coração”

Ah, saudades de Gregório de Matos, que usava o verbo certo para falar o que se precisa ouvir:

De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder.

Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito, e bem feito:
por bem digesto, e colheito
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
de dous ff se compõe.

Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.

Provo a conjetura já,
prontamente como um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são B-A-H-I-A:
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter,
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.
*

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ana Larissa


" Salvador, 24 de agosto de 2010,
 
Inicialmente quero dizer que não acredito, acreditem, que este texto possa mudar qualquer das barbaridades que vivenciei nessa madrugada. Acreditem, não acredito que encontrarei eco em algum lugar. Preciso, entretanto, falar..."

Assim começa a carta escrita ao Conselho Regional de Medicina (Cremeb) pelo médico Vinícius Moraes, um relato emocionado, contando como a garota Ana Larissa Menezes Baptista, de apenas 8 anos, morreu depois que três pediatras de um hospital público negaram atendimento a ela. A menina faleceu por causa de acidente vascular cerebral (AVC), após enfrentar uma maratona de quase 12 horas perambulando por quatro unidades de saúde do Estado. A carta acabou vazando e agora circula na internet.

Na carta, Vinícius conta como foi a luta para tentar salvar a vida de Ana Larissa, desde o momento em que a transferiu do Hospital São Jorge para o Roberto Santos. Numa narrativa comovente, ele chega a classificar  de “show de horrores” os fatos perpetrados pelas pediatras.



 " (...) Deixamos o HGE por volta das 03h45min e fizemos, eu e Lidysi, o caminho de volta até a CER chorando por termos presenciado, e vivido, tanto sofrimento durante àquelas horas infindáveis. Chorei como há muito não fazia. Chorei destruído com a confirmação do quão frágil é a vida humana. Chorei lamentando que uma menina de oito anos tenha partido de maneira tão repentina. Chorei invadido pelo choro daqueles pais que me abraçaram agradecidos e reconheceram, num momento de perda, o nosso trabalho. Chorei porque encontrei tanta gente, que atende tantas outras gentes, sem estar de fato compromissada com isso. Chorei porque novamente vi um ser humano ser tratado como um problema, um problema cuja paternidade ninguém quis assumir... Chorei porque encontrei abandono, desrespeito e incompreensão. Chorei porque tudo o que já era tão doído se tornou ainda pior tamanha as barbaridades que vi e ouvi. Chorei como nunca. Chorei descrente da profissão que escolhi. 

Termino esse desabafo reafirmando que não acredito em mudanças reais. Os protagonistas desse drama continuarão por lá, pelos corredores do HGRS, pelos corredores de tantos outros hospitais públicos. Eles continuarão humilhando os mais necessitados - os fragilizados pela falta de saúde e de saída -, continuarão tentando intimidar os mais esclarecidos que se opõem às suas arbitrariedades. Esse desabafo existe, entretanto, para registrar a minha indignação frente a tudo isso. Seja você que me lê um instrumento de Deus por aqui. Coloque-se no lugar daquela família que perdeu uma filha e que presenciou tanto abandono. Sinta-se tocado por aquela dor e repense suas atitudes frente à vida, frente aos vivos. Tente fazer diferente. E, sobretudo, ame quem quer que seja e tenha a sorte de ser amado como eu sou. Só assim, experimentando a libertação, a salvação que é ser amado, você possa, então, ser amor nesse mundo."
 
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) e Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) abriram investigações para apurar as denúncias contra as três pediatras do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), baseados na carta do médico Vinícius Viana Bandeira Morais.

Veja matéria e carta na íntegra

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sobre futebol

Charge com Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro e Neymar, por Milton Trajano


Futebol é negócio, todo mundo sabe.
Mas ainda me surpreendo com a desfaçatez dos cartolas.
Com a sanha da imprensa em criar ídolos de pés barrentos, colocando-os bem lá nas alturas, onde só o ego humano pode alcançar, para depois, na hora da queda, trucidá-los em capítulos diários de uma telenovela que vai do dramalhão às páginas policiais.
Com o fanatismo dos torcedores, ignorantes ou indiferentes ao que há de podre sob o manto de suas agremiações, iludidos com uma classificação, uma vitória, um golzinho impedido que seja...
Ainda me surpreendo que pessoas trabalhem todo um mês, muitas vezes em serviços pesados e em péssimas condições, para receber um salário mínimo (muitas, nem isso) e um indivíduo, por ter um relativo talento com a bola e certas habilidades técnicas, receba milhões. Que num esporte coletivo, dentro da mesma equipe uns sejam operários e outros, imperadores, reis e afins...
Ainda me surpreendo com o nível de influência dos patrocinadores, que determinam que um jogador entrará em campo de qualquer jeito, mesmo que tenha histórico de indisciplina, esteja fora de forma, ostente suas ligações com o crime, xingue o técnico, mate a amante...
Dizem que "o Brasil é o país do futebol", e que "o futebol é o ópio do povo"...falar mais o quê?!
*

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Dois homens olham pela mesma janela. Um vê a lama. O outro vê as estrelas!"
Frederick Langbridge
*

domingo, 22 de agosto de 2010

Perplexidade


"Faça sempre o bem; isso contentará algumas pessoas e deixará as demais perplexas."

Mark Twain
*

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O lobo do homem

 "O que mais me impressiona nos fracos é que eles precisam humilhar os outros para se sentir fortes".  Esta frase está impressa num papel colado numa das paredes da 26ª CP, Vila de Abrantes, onde uma equipe de TV local faz mais uma matéria sobre ocorrências policiais. O enredo é sempre o mesmo: um "intrépido repórter" cita o nome completo, supostos apelidos e delitos supostamente cometidos por um indivíduo detido em alguma delegacia de Salvador e adjacências. Desprezando o fato de o suspeito não ter passado por um julgamento e eventual condenação, o repórter , não se sabe com que autoridade, agiliza o processo penal e, ali mesmo,  acusa, julga e condena o indivíduo, explorando sua imagem, exibida exaustivamente em vários ângulos, interrogando-o de modo incisivo e sarcástico, atribuindo-lhe crimes diversos, ridicularizando qualquer declaração de defesa ou justificativa. Às vezes, há espaço para lições de moral ou tiradas “humorísticas”.
Há também a modalidade "Operação Policial", quando o "intrépido repórter", com seu coletinho à prova de balas,  acompanha invasões de residências sem apresentação de mandado, abordagens violentas e com uso de palavreado chulo dirigidos a pessoas que simplesmente estão exercendo seu direito de ir e vir. A lógica é a de que todos são culpados até prova em contrário.
Em comum entre aqueles que servem como atração para esse tipo de programa está o fato de serem pobres, com pouca escolaridade e quase nenhuma noção de seus direitos. Exatamente como a maioria dos telespectadores, alimentados toda a vida com uma visão maniqueísta patrocinada pela imprensa, porta-voz da "verdade", que diz quem está do lado certo e quem está do outro lado.
Será que nunca viram essas cenas os representantes do ministério Público do Estado? Dos Direitos Humanos? Da OAB-BA? Da intelectualidade (ops...eles não assistem esse tipo de coisa...).

*

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A rosa faz 65 anos


"A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada"

Em meio a especulações sobre uma invasão ao Irã, com o pretexto de verificação e controle de armamento nuclear, é bom lembrar que Hiroshima e Nagasaki são até agora os únicos ataques onde se utilizaram armas nucleares - promovidos pela nação que quer tomar conta do mundo e ser a guardiã da paz.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre meninos palestinos



O desespero de Khaled

Khaled, de cinco anos de idade, desespera-se ao assistir o pai ser violentamente levado por soldados israelenses.
Fadel é acusado, junto com outros agricultores, de desviar água de canos que abastecem um assentamento judeu na Cisjordânia.
Os palestinos afirmam ter documentos com a permissão de autoridades palestinas para usar a água e que pagam por ela todos os meses.
Gritando e chorando, o pequeno Khaled tenta chegar a seu pai e implora aos soldados que não o levem. Tudo em vão: é afastado mecanicamente, como um pacote flácido, e vê o carro afastar-se com seu pai dentro dele...



O Coração de Ahmed

O filme "Heart of Jenin" (Coração de Jenin), de 2008, é baseado na história de Ahmed Khatib, de 11 anos, e seu pai, Ismael.
Ahmed foi morto em Jenin, por tropas israelenses, quando brincava na rua com seus amigos.
Segundo a versão oficial de Israel, Ahmed portava uma arma de brinquedo que foi confundida pelos soldados com uma de verdade.
No entanto, nenhuma arma (nem de verdade nem de brinquedo) foi encontrada quando foi morto pelos soldados israelenses.
O pai de Ahmed, Ismael, resolveu doar os orgãos de Ahmed a seis israelenses, entre eles árabes e judeus, afirmando que "a vida é a coisa mais importante".
O gesto dramático do pai do menino morto comoveu o cineasta Marcus Vetter e o levou a fazer o filme, no qual acompanhou Ismael Khatib em visitas aos israelenses que receberam os órgãos de Ahmed.
*

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Quando o mundo fica cinza


Quando alguém disser que o mundo lhe parece cinza, pode não ser uma metáfora...

Pesquisadores da Universidade de Freiburg, na Alemanha, analisaram as respostas elétricas da retina (é através dela que os sinais luminosos são transformados em impulsos elétricos enviados ao cérebro) de pessoas deprimidas e outras em estado normal, e verificaram que a depressão dilui o contraste entre o branco e o preto, por isso o mundo torna-se literalmente cinza para o deprimido.

Interessante que frases como “parece que tudo perdeu a cor” ou “todos os dias são cinzentos agora” são bastante utilizadas por quem sofre desse mal e tenta descrever sua percepção do mundo nessa condição. E você achando que seu amigo é fresco, ou que sua mulher é muito dramática, sem saber que há uma explicação científica para (quase) tudo nessa vida....
*

quarta-feira, 21 de julho de 2010


“Procuro recordar o que dizíamos. Impossível. As minhas palavras eram apenas palavras, reprodução imperfeita de fatos exteriores, e as dela tinham alguma coisa que não consigo exprimir. Para senti-las melhor, eu apagava as luzes, deixava que a sombra nos envolvesse até ficarmos dois vultos indistintos na escuridão...A voz dela me chega aos ouvidos. Não, não é aos ouvidos. Também já não a vejo com os olhos.”


Graciliano Ramos em São Bernardo
*

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quarto de Despejo

Finalmente assisti Preciosa e era mais ou menos o que eu imaginava (um bom filme). Mas o que me surpreendeu foi o que descobri a partir dele: a escritora Sapphire (autora do livro Push, que deu origem a Preciosa) deve parte de sua inspiração à brasileira Carolina Maria de Jesus.
Carolina - migrante, com pouca escolaridade, favelada, catadora de papel - conseguiu publicar, em 1960, Quarto de Despejo, posteriormente traduzido para 14 idiomas e que, com suas demais obras, já teve mais de um milhão de exemplares vendidos em todo o mundo.
Além de ser um best seller, o livro (e a própria vida de Carolina) é objeto de inúmeras teses em vários países e originou letra de samba, peça teatral, filmes e série televisiva.
Quarto de Despejo reúne, sob a forma de diário, os acontecimentos da vida na favela e as impressões da autora sobre a fome, o ambiente insalubre, o cotidiano de miséria. Mas também observa o contexto político e social da época, analisa a degradação humana influenciada pelo meio e cita clássicos da literatura.
Carolina teve publicados ainda Casa de Alvenaria (1961), Pedaços de Fome (1963), Provérbios (1963) e Diário de Bitita (1982 - Póstumo), mas nenhum alcançou o mesmo êxito do primeiro. Ela morreu pobre, na casa em que morava de favor, aos 62 anos, e deixou mais de 4,5 mil manuscritos, incluindo um romance, três peças de teatro e inúmeros poemas.
Impressionante que sua história e obra sejam praticamente desconhecidas em seu país.


“Enquanto estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num Quarto de Despejo.

Sou rebotalho. Estou no Quarto de Despejo, e o que está no Quarto de Despejo ou queima-se ou joga-se no lixo.

Depois pensei: eu não saio do Quarto de Despejo, o que posso saber o que se passa na sala de visita?

Mas ele deve aprender que a favela é o Quarto de Despejo de São Paulo. E que eu sou uma despejada.

Favela, sucursal do inferno, ou o próprio inferno.”
*

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Às vezes, esquecemos


“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.”

José Saramago
*

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Inocência ?!


"Não existem inocentes. Só diferentes graus de responsabilidade."


Stieg Larsson em “A menina que brincava com fogo”
*

domingo, 13 de junho de 2010

Juventude


“Como é bela a juventude, 
que no entanto foge! 
Quem quiser ser feliz, que seja: 
do amanhã não há certeza.”


Lourenço Médicis
*

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Livro secreto


"Cada um tem seu passado preso em si como as páginas de um livro conhecido por seu coração, e seus amigos só podem ler o título." 

Virginia Woolf
*

domingo, 6 de junho de 2010

Desembaraçar


v.t. Desemaranhar, desenredar; livrar, desimpedir, tirando ou removendo o embaraço.
*

quarta-feira, 2 de junho de 2010

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Terrorismo de estado


Todo o mundo lamentou o ataque israelense a uma flotilha de ajuda humanitária com destino a Gaza, mas... o que houve de novo, além de mais algumas vidas perdidas? Israel virou estado por conta de ações terroristas e assim mantém o controle da região, com apoio dos EUA.

Isso vai mudar um dia?!
*

sábado, 22 de maio de 2010

O reino e o castelo


“... o Reino de Deus está dentro de você e está fora de você e não dentro de templos de madeira e pedra... De mim todas as coisas vêm e para mim todas as coisas voltam. Levante uma pedra e lá estarei eu; quebre uma madeira e lá estarei eu.”
*

terça-feira, 18 de maio de 2010

Proibido? E daí...?!


Desobediência civil: método que permite defender todo o direito que se encontra ameaçado ou violado, uma forma de pressão legítima, de protesto, de rebeldia contra as leis, atos ou decisões que ponham em risco os direitos civis, políticos ou sociais do indivíduo.
*

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Polícia & ladrão


Police and thieves in the streets

Oh yeah!
Scaring the nation with their guns and ammunition

o problema é saber quem é quem…
*

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Véu


Proibir alguém de usar um adereço pessoal, que por si só não deveria ofender ninguém, é tão tirano quanto obrigar a usá-lo.


As mulheres mulçumanas, oprimidas toda a vida por aqueles que exercitam o sadismo misógino através do Islã, agora são oprimidas também pelas “democracias avançadas”.
*

segunda-feira, 26 de abril de 2010

O que não se diz

Foto: Kalil Amaral

"A verdade de outra pessoa não está no que ela te revela, mas naquilo que não pode revelar-te. Portanto, se quiseres compreendê-la, naõ escute o que ela diz, mas antes, o que ela não diz".


Kahlil Gibran
*

sábado, 17 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

E agora...?


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?

Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse....
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!
José, para onde?

José - Carlos Drummond de Andrade
*

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O bom, o mau e o feio


Em vez de ver (ou rever) alguma versão cinematográfica das sempre interessantes vida e paixão de Cristo (as versões é que nem sempre são interessantes), resolvi assistir na sexta-feira santa esse clássico do western spaghetti.
Lançado no Brasil como "Três homens em conflito", o filme de Sergio Leone mostra a busca de três sujeitos fora-da-lei por um tesouro escondido. Mas não é só isso...
Além do roteiro bem costurado, ação envolvente e belas atuações, há uma pungente crítica à guerra civil americana e suas consequências.
A trilha sonora de Ennio Morricone é incrível e todo mundo já ouviu o tema 'The good, the bad and the ugly" alguma vez na vida...
*

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sobre os gatos


“Gatos sabem como obter comida sem trabalho, abrigo sem confinamento e amor sem castigos” – W. L. George

"O gato é doméstico só até onde convém aos seus interesses." - Saki

"Gatos são inteligentes; aprendem qualquer crime com facilidade." - Mark Twain

É tudo verdade...
*

sábado, 20 de março de 2010

Mudança de estação



O verão partiu
e nunca devia ter vindo
será quente o sol
mas não pode ser só isso

Tudo veio para partir,
nas minhas mãos tudo caiu,
corola de cinco pétalas,
mas não pode ser só isso

Nenhum mal se perdeu,
nenhum bem foi em vão,
à luz clara tudo arde
mas não pode ser só isso

Agarra-me a vida
sob a sua asa intacto,
sempre a sorte do meu lado,
mas não pode ser só isso

Nem uma folha se consumiu
nem uma vara quebrada...
vidro límpido é o dia,
mas não pode ser só isso.

Arsenii Tarkovskii
*

quinta-feira, 18 de março de 2010

A Distância


"Na verdade, os dois agora estavam tão separados um do outro que com certeza poderiam usar a unidade dos parsecs, ou ‘segundos de paralaxe’. Um parsec era igual a 3.26 anos-luz, ou seja, quase 31 trilhões de quilômetros. Mas trilhão era uma palavra impressionante, com todos aqueles zeros se precipitando pelo universo. Não era triste o bastante para expressar seu sentimento...Quantos parsecs seriam necessários para expressar a diferença entre eles?"

Nikita Lalwani em "O Dom"
*

terça-feira, 2 de março de 2010

Saúde!


Ezdou beio gribada, dão dô dada bem... A-A-A-Atchô! Fugi do drabadjo e dorbi a darde doda. Dizem gue é a "Reboladion". Dinguém berece... A-A-A-Atchô!

*

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

nossas relíquias


relíquias levou
ao penhor
com pesar
ouviu de
boca alheia: "nada valem"

com poesia
também é
assim george:
há coisas
caras a nós
que não devemos pôr em um poema

"George" de Francisco dos Santos
*

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Poi il lavoro


" A abelha atarefada não tem tempo para tristezas."

William Blake em "Provérbios do Inferno"
*

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Fantasia

Pierrots sem suas fantasias de meninos

Custei a compreender que a fantasia
É um troço que o cara tira no carnaval
E usa nos outros dias por toda a vida.

Aldir Blanc e João Bosco
*

Minha flor


Tudo nela vem florido
raiz brava com cheiro
de jasmim



Escrevi isto quando tinhas 1 ano e 3 meses. Agora, com 13, estás bem mais brava que jasmim...mas és minha florzinha assim mesmo!
*

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

WRONG!!!


I was born with the wrong sign
In the wrong house
With the wrong ascendancy
I took the wrong road
That led to the wrong tendencies
I was in the wrong place at the wrong time
For the wrong reason and the wrong rhyme
On the wrong day of the wrong week
I used the wrong method with the wrong technique
Wrong
Wrong

There’s something wrong with me chemically
Something wrong with me inherently
The wrong mix in the wrong genes
I reached the wrong ends by the wrong means
It was the wrong plan
In the wrong hands
With the wrong theory for the wrong man
The wrong eyes, on the wrong prize
The wrong questions with the wrong replies
Wrong
Wrong

I was marching to the wrong drum
With the wrong scum
Pissing out the wrong energy
Using all the wrong lines
And the wrong signs
With the wrong intensity
I was on the wrong page of the wrong book
With the wrong rendition of the wrong hook
With the wrong moon, every wrong night
With the wrong tune playing till it sounded right
yeah

Wrong
Wrong

Too long
Wrong

Wrong
(Martin L. Gore)
*

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Há 2065 anos


Ò Marcus Tullius, receio que, da antiga Roma até aqui, dos que deveriam seguir teus conselhos, nenhum o tenha feito...
*

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Orar


"Um simples pensamento de gratidão elevado ao céu é a mais perfeita oração."
(G. E. Lessing)
*

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

J. D. - História & poesia


“Entre outras coisas, você vai descobrir que não é a primeira pessoa a ficar confusa e assustada, e até enjoada, pelo comportamento humano. Você não está de maneira nenhuma sozinho nesse terreno, e se sentirá estimulado e entusiasmado quando souber disso. Muitos homens, muitos mesmo, enfrentaram os mesmos problemas morais e espirituais que você está enfrentando agora. Felizmente, alguns deles guardaram um registro de seus problemas. Você aprenderá com eles, se quiser. Da mesma forma que, algum dia, se você tiver alguma coisa a oferecer, alguém irá aprender alguma coisa de você. É um belo arranjo recíproco. E não é instrução. É história. É poesia.”


J. D. Salinger em “O apanhador no campo de centeio”
*