sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O lobo do homem

 "O que mais me impressiona nos fracos é que eles precisam humilhar os outros para se sentir fortes".  Esta frase está impressa num papel colado numa das paredes da 26ª CP, Vila de Abrantes, onde uma equipe de TV local faz mais uma matéria sobre ocorrências policiais. O enredo é sempre o mesmo: um "intrépido repórter" cita o nome completo, supostos apelidos e delitos supostamente cometidos por um indivíduo detido em alguma delegacia de Salvador e adjacências. Desprezando o fato de o suspeito não ter passado por um julgamento e eventual condenação, o repórter , não se sabe com que autoridade, agiliza o processo penal e, ali mesmo,  acusa, julga e condena o indivíduo, explorando sua imagem, exibida exaustivamente em vários ângulos, interrogando-o de modo incisivo e sarcástico, atribuindo-lhe crimes diversos, ridicularizando qualquer declaração de defesa ou justificativa. Às vezes, há espaço para lições de moral ou tiradas “humorísticas”.
Há também a modalidade "Operação Policial", quando o "intrépido repórter", com seu coletinho à prova de balas,  acompanha invasões de residências sem apresentação de mandado, abordagens violentas e com uso de palavreado chulo dirigidos a pessoas que simplesmente estão exercendo seu direito de ir e vir. A lógica é a de que todos são culpados até prova em contrário.
Em comum entre aqueles que servem como atração para esse tipo de programa está o fato de serem pobres, com pouca escolaridade e quase nenhuma noção de seus direitos. Exatamente como a maioria dos telespectadores, alimentados toda a vida com uma visão maniqueísta patrocinada pela imprensa, porta-voz da "verdade", que diz quem está do lado certo e quem está do outro lado.
Será que nunca viram essas cenas os representantes do ministério Público do Estado? Dos Direitos Humanos? Da OAB-BA? Da intelectualidade (ops...eles não assistem esse tipo de coisa...).

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